Como começou trabalhar com jovens ?
Com 18 anos,comecei dar aula de teatro na Ilha do Governador, depois disso não parei mais. Entrei na faculdade de História e comecei a dar aulas mesmo antes de terminar a faculdade, e estou até hoje com os jovens.
O que te fez criar o U.J.M (União dos Jovens da Maré) ?
Eu acho que o U.J.M significou um movimento natural de tudo o que realizamos durante o ano todo, como por exemplo: a mobilização dos alunos do preparatório para discutir a segurança pública na consulta livre no Centro de Artes da Maré, depois os infinitos debates em sala de aula sobre muros, segurança pública, educação bancária, lutas de classes Sociais e outros. Nesse sentido o U.J.M surgiu pela a necessidade de mobilizar os jovens da Maré para discutir o projeto " A Maré que Queremos", já que tínhamos identificado que não existia uma representação da juventude na discussão desse importante projeto.
Você acha é possível alcançar nossos objetivos e dar continuidade ?
Acho. Temos sempre que ter em mente que as situações de injustiças sociais não são naturais, e um dos primeiros passos para a mudança da realidade é a mobilização que una a teoria e a prática ,e é o que o U.J.M está tentando fazer.
O que você acha que esse projeto pode mudar na vida dos jovens ?
Acho que o U.J.M pode primeiramente mudar é a concepção de mundo. Vivemos numa sociedade capitalista com sua visão de mundo consumista provocando exclusão e opressão. O U.J.M pode construir uma visão de mundo contra-hegemónica que favoreça e defenda as camadas populares que vivem aqui na Maré.
O que pretende junto com os jovens para a melhoria da Maré ?
Pretendo ajudá-los na organização desse movimento, depois disso, precisamos juntos com outras redes aqui na Maré, pensarmos em estratégias de mudanças. Atualmente gostaria de estar empenhado na defesa do projeto " A Maré que Queremos".
Por qual motivo saiu de um emprego no qual ganhava mais para um emprego dentro de uma comunidade que ganha menos e trabalha muito mais ?
Satisfação pessoal. Nasci aqui na Maré, no morro do Timbal, minha avó ainda mora aqui na Maré, e com 5 anos de idade fui para a Ilha do Governador. Na faculdade de História, sempre estive envolvido com movimento estudantil e com os intelectuais de esquerda. Quando pintou a oportunidade de trabalho na Redes pensei: " Parece até destino, nasci aqui e agora estou voltando para ser professor". Acho que tenho algum tipo de resgate ou missão para esse lugar. Então tudo que estudei e acredito aplicarei com afinco para ajudar a mudar pelo menos um pouquinho a Maré ".
O que você acha do Cine Preparação ?
Acho que é um espaço muito importante, não só para ampliar nossos debates mais também como momento de lazer e integração fora da sala de aula.
O que você acha das UPPS nas comunidades ? Você acha que a Maré deveria ter uma ? E com ela, a Maré melhoraria ?
Acho que as críticas as UPPS não podem ser consideradas como defesa ao tráfico. Não existem apenas dois lados, o que vimos, lemos e discutimos sobre a atuação das UPPS em favelas cariocas foi que a criminalização ao pobre continuou inalterada. Não queremos que esse modelo se reproduza aqui.
O que você acha do MURO que foi criado na Linha Vermelha ?
Acho um absurdo. Devíamos está construindo "pontes" e não muros! Acho mal gosto e repressivo. É o muro da vergonha! Mas acho que esse muro não irá durar muito tempo. As pessoas são mais fortes, nenhum muro consegue abafar o grito da maioria dos excluídos.
Foi com essas palavras que acabamos a entrevista com nosso idealizador. Foi uma tarde de muita aprendizagem. Adorei fazer a entrevista com ele. Seu modo de ver as coisas de outro jeito é incrível. Continue assim Rodrigo Malvar.
Créditos:
- Ellen Alves
- Victória Oliveira
- Tamiris Neves - Fotos
Reescrito e postado no blog por:
- Ellen Alves
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